sexta-feira, 13 de julho de 2007

Gente de Almada, Gente Que Vive Almada

Carlos Peixoto da Silva Sameiro, nasceu em Aveiro, a 20 de Agosto de 1910, vive em Almada. É viúvo, a esposa faleceu há 3 anos, tem uma filha com quem vive.
Carlos Sameiro foi o penúltimo Faroleiro do Farol de Cacilhas. Seu pai também foi Faroleiro.
Começou a trabalhar aos 12 anos como aprendiz de serralheiro. Saíu de Aveiro aos 3 anos de idade e voltou à sua terra natal só aos 17 anos, onde permaneceu um ano.
Tirou o primeiro Curso de Faroleiro em Leça da Palmeira (Matosinhos), tendo entrado para o Serviço de Faróis aos 18 anos, como Faroleiro supranumerário, em S. Martinho do Porto. Fez o 2º Curso - Complementar de Faroleiro Chefe, também em Leça da Palmeira aos 51 anos.
O exercício da profissão que abraçou, levaram-no a uma vida de nómada ao longo da costa portuguesa.
Para além de S. Martinho do Porto, prestou serviço em outros faróis:
Cabo de S. Vicente (2 vezes), Sagres (2), Alfanzina- Praia do Carvoeiro/Lagoa (1), Vila Real de S. António (1), S. Julião da Barra (2), Cabo Espichel (2), Cabo Raso (1) Aveiro (1) e Cacilhas onde esteve três vezes: 1936, como faroleiro de 3ª classe, depois nos anos 40 (faroleiro de 1ª classe) e pela terceira e última vez no exercício da sua profissão, como Faroleiro Chefe, de onde saíu para a reforma em 1972.
Quando prestou serviço no Farol de Cacilhas, residiu na Casa do Faroleiro, situada na Rua Cândido dos Reis, nº 3, em Cacilhas.
De todos faróis onde prestou serviço, foi o de Cacilhas pela sua localização e vivência local que mais o atraíu e mais gostou.
Por onde passou, paralelamente à sua actividade profissional, dedicava-se ao conserto de relógios, a pedido dos amigos e conhecidos.
Após a reforma, ficou a viver em Almada onde o podemos encontrar, por vezes, pelo final das manhãs e fins de tarde, na Praça do MFA (ex-Praça da Renovação) em cavaqueira com seus amigos mais jovens.
Ao Sr. Carlos Sameiro, cidadão ligado à vida de Almada e dos cacilhenses, após esta breve e simples resenha da sua vida, desejamos-lhe saúde para comemorar o seu centenário e prolongar o convívio com seus amigos e conhecidos desta cidade, que escolheu para residir.

sexta-feira, 6 de julho de 2007

Gente de Almada, Gente Que Viveu Almada

Arménio Reis era natural de Almada, nasceu em Cacilhas a 13 de Julho de 1934. Cidadão de grande talento artístico, começou na sua meninice a trabalhar em ourivesaria. Mais tarde dedicou-se à pintura e foi como aguarelista que também nos deixou excelentes trabalhos. Para lá da pintura, Arménio Reis revelou os dotes criativos das suas qualidades inatas, na decoração, cenografia, grafismo e na poesia que dedicava espontaneamente aos amigos. Participou com seus trabalhos em várias exposições em Portugal e além fronteiras. Os seus trabalhos encontram-se espalhados pelo Mundo.
Arménio Reis era uma pessoa com ideias e vivência próprias, que não esquecia as dificuldades económicas e as carências que ele e seus pais tinham passado e sempre soube retribuir o reconhecimento a quem tinha ajudado os seus a ultrapassar alguns momentos menos felizes.
Arménio Reis, na década de 90, era figura presente pelas manhãs e tardes à mesa de Café na Praça da Renovação, (Praça MFA), com muitos de seus amigos entre os quais: Francisco Bastos, Jaime Feio, Carlos Durão, João Samorrinha, Miguel Cantinho, Henrique Mota e Fernando Coelho. Os momentos vividos com ele foram sempre ocasião para períodos de boa disposição e normalmente era nesses momentos que Arménio Reis rascunhava num qualquer papel, às vezes na toalha de papel da mesa ou num guardanapo, umas quadras dedicadas a um dos presentes, assim como em ocasiões, rascunhava qualquer coisa que não era uma coisa qualquer. Até num prato de servir bolos no café, o Arménio Reis fazia pintura de improviso que oferecia à empregada.
Pessoa humilde, Arménio Reis tinha um carinho especial por um companheiro de tertúlia também pessoa boa, João Samorrinha, de mais idade, mas baixinho. Quando o via chegar tinha sempre uma tirada que fazia rir o pessoal, entre elas esta: “Fui levar o puto à escola de manhã e ele já aqui está. Fugiste?” Numa das vezes em que de improviso o Arménio Reis escreveu umas quadras, estas dedicadas ao seu amigo Francisco Bastos, estavamos presente e aqui as reproduzimos.

Ainda me lembro bem
Quando te via correr
Corrias como ninguém
Até dava gosto ver 

De passada forte e larga
Corre o leão sob o peito
Da memória não se apaga
Da massa que eras feito 

Não gosto de te ver triste
Que me aperta o coração
O que foste e o que viste
Nem pareces um leão. 

Arménio Reis faleceu, um tanto ou quanto inesperadamente porque inicialmente nada fazia prever esse desenlace, em 5 de Fevereiro de 1997, após um período de internamento no Hospital Garcia de Orta, em Almada, onde ainda o visitámos por duas vezes.