quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Gente de Almada, Gente Que Viveu Almada

 
Descarregadores de cortiça, trabalhadores da Fábrica H. Bucknall & Sons, no Caramujo, Cova da Piedade, na década de 1920.
Este pessoal residente no concelho, era oriundo de vários pontos do país, sendo alguns deles naturais da Beira interior. Deslocavam-se para a margem sul em busca de melhores condições de vida, deixando alguns, as mulheres e filhos na província, que por vezes, mais tarde, vinham juntar-se-lhes e aqui refaziam a vida.
Procuravam residir próximo do local de trabalho para poderem facilmente deslocar-se a pé a casa para almoçar (dispunham de uma hora), quando não levavam o "farnel" numa lancheira de madeira ou cesto de verga -principalmente os que tinham já a mulher junto a si.
Quando viviam sozinhos, era em casa alugada e em comunidade, fazendo uma refeição única que partilhavam de uma travessa ou alguidar de barro colocado no centro da mesa de onde cada um ia tirando com garfo directamente a comida.
Quando algum vinha isolado de modo geral ficava uns tempos a viver em casa de um conterrâneo que viera mais cedo e já conhecia o ambiente. Lá ficava até se aclimatar e entrosar no modo de vida menos rural que aquele de sua proveniência.
Alguns havia que não se adaptavam e regressavam mais cedo à sua terra.
De um modo geral algum do dinheiro amealhado era enviado para família e outro usado para comprar uma pequena propriedade, um pinhal ou um terreno de cultivo na "terra", a pensar num regresso mais tarde às origens.
Era gente trabalhadora que aqui granjeou amizades. Alguns ou seus descendentes prosperaram trabalhando arduamente, fazendo de Almada sua terra adoptiva.

Repare-se nestes pormenores na foto: todos os trabalhadores usavam bigode, todos que estão em primeiro plano estão descalços - assim trabalhavam - e a maioria tem sobre o ombro uma saca grossa, que era a sua "ferramenta de trabalho" - servia para interpor entre o corpo e o fardo de cortiça que transportavam sobre as costas.
À direita na foto, junto de uma balança segundo nos parece, vemos aquele que era o controlador do peso dos fardos de cortiça, trabalhador de uma categoria já superior e com outro uniforme.
Esta foto está integrada no livro "Almada na História da Indústria Corticeira e do Movimento Operário" (1860-1930) de Alexandre M. Flores. Ed. CMA 2003.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Coisas de Almada e da Gente de Almada


O "Renovação" cumprindo uma das suas viagens no Rio Tejo.
O “Renovação”, propriedade da Sociedade Jerónimo Durão & Filhos Lda, entrou ao serviço da carreira entre as duas margens do Rio Tejo no trajecto Cacilhas - Terreiro do Paço, em 1958. Escreveu a imprensa da época que “ a entrada do barco ao serviço foi assinalada com uma soberba viagem inaugural realizada até à barra... para ver o pôr do sol digno da melhor marinha”. Os convidados “foram recebidos ao portaló pelo sócio gerente da empresa, Sr. Jerónimo Durão”, que lhes “mostrou todas as dependências do barco, incluindo a casa das máquinas”. Citando a mesma imprensa: «A Sociedade proprietária – Jerónimo Durão e Filhos, Lda – preza-se de apresentar um barco, que em verdade serve o público condignamente. Com efeito a amplidão do barco, a comodidade dos assentos, a potência dos motores, a limpeza das instalações higiénicas, a solidez da construção revelam a preocupação de bem servir, e colocam esta unidade muito acima das restantes em serviço. Aos convidados foi servido um esplêndido copo de água, fornecido pela Pastelaria Ferrand, Lisboa.» O "Renovação" tinha as seguintes características. - comprimento, 26 metros - boca, 6,96m - pontal, 2,50m - lotação, 430 passageiros - potência do motor 530h.p. - velocidade máxima, 12milhas/hora Este barco, juntamente com seu semelhante "Recordação", tinha na verdade dimensões, características e qualidades muito acima dos outros, que na época transportavam só passageiros, entre Cacilhas e Lisboa, proporcionando uma viagem muito mais agradável e confortável aos seus utilizadores. O “Renovação” navegou no Tejo até à sua substituição pelos actuais cacilheiros da "Transtejo", após a nacionalização deste serviço.
Depois disso o "Renovação foi para o Algarve e passou a transportar passageiros entre Olhão e as ilhas locais.