quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Gente de Almada, Gente Que Viveu e Vive Almada

 
Cerimónia pública de lançamento da primeira pedra para um Pavilhão Gimnodesportivo do Ginásio Clube do Sul, no terreno entre a Rua Cruzado Liberche e a Rua Lourenço Pires de Távora, em Almada. No local não chegou a ser construído qualquer Pavilhão.
Vêem-se nesta foto em primeiro plano junto da mesa e da esquerda para a direita: Tenente Diogo (só após o seu destacamento de Almada foi promovido a Capitão), Comandante da Polícia de Segurança Pública de Almada; Sr. Carlos Alberto Pinto Durão, então Presidente da Direcção do Ginásio Clube do Sul e Dr. Glória Pacheco, Presidente da Câmara Municipal de Almada.
As quatro crianças à esquerda na foto pertenciam às classes de ginástica do Ginásio Clube do Sul.
Atrás, entre o Sr. Carlos Alberto Pinto Durão e o Dr. Glória Pacheco vê-se o então Chefe Manuel Simões, da Polícia de Segurança Pública de Almada.
O Dr. Glória Pacheco, antes de assumir a Presidência da Câmara Municipal de Almada, fora Conservador do Registo Civil de Almada.
A foto é da segunda metade da década de sessenta (1967-1968).

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Gente de Almada, Gente Que Viveu Almada

 
 
Francisco António Daniel, o Daniel “BOLA NOVA”, popular figura durante décadas nas praias do centro da Vila da Costa de Caparica, nasceu na freguesia de Vila Nova de Tazem, concelho de Gouveia, Distrito da Guarda. Aos 16 anos chegou à Trafaria para trabalhar na Padaria do Sr. Miranda como padeiro, a convite de seu primo José Tiago, chefe do pessoal.
 Transferiu-se depois para a padaria do “Mano” na Costa de Caparica , tendo trabalhado ainda em Almada, dentro do mesmo ramo. Regressou à Costa de Caparica onde viria a casar aos 21 anos com uma caparicana de quem teve três filhos. De seguida lançou-se sozinho, com fabrico próprio, no negócio de padeiro e pasteleiro auxiliado por sua mulher. Fazia broa de milho, os pastéis caparicanos ( bolos com a forma de lagarto e de bonecos) e a Bola Nova, as suas deliciosas iguarias. Comprou uma casa, para desenvolver o negócio.

 Era na Rua Costa Pinto que tinha a sua fábrica. Vendia suas especialidades doces na praia, entre o antigo banheiro Estrela do Mar e o ainda actual Bexiga e, fazia também uma distribuição de bicicleta por tascas, principalmente no Inverno, desde a Costa de Caparica a Cacilhas, auxiliado algumas vezes por um dos filhos. Por volta dos 33 anos compra o seu primeiro carro, um Ford V8 e passa a nova fase do seu negócio. De manhã vende bolos na praia e à tarde trabalha com o táxi em Cacilhas onde também vende bolos que transporta no táxi. O Sr. Daniel não parava. A broa de milho era uma especialidade sua vendida a vinte centavos ($20). Tinha clientes certos: os Evandros, Mestre Adrião e Francisco José da Silva (Mestre Xico) entre outros.
Daniel “Bola Nova” era católico e muito exigente para com seus filhos nas relações sociais e profissionais.

Na época de praia, era aguardado todas as manhãs por adultos e crianças. Hoje, certamente quem frequentava a praia e tem mais de 25 anos, lembra com saudade aquele homem simpático, vestido de branco e boné na cabeça, o “Bola Nova”. Era a alegria da criançada com seu pregão e imagem de marca “lá vou eu”, em resposta aos apelos dos que solicitavam sua presença com o carrinho de mão, onde transportava os bolos pelo areal, sempre com grande perícia. Com aquele pregão dava a todos a certeza que ninguém ficava por atender.

 Em homenagem a esta figura simpática e símbolo da “praia da Costa” durante décadas, um Grupo de Pais criou numa Escola, alguns anos atrás, a Associação de Pais “ Bola Nova”, justificando desta forma a razão do nome: “Era uma vez, no tempo em que vossos pais eram crianças, um Senhor.... Um Senhor vestido de branco, que tinha um carrinho branco com letras vermelhas e que vendia uns bolos que eram uma delícia. Com seu pregão de “lá vou eu” chamava pelas crianças, que lutavam para chegar em primeiro lugar junto dele, para comer aquelas “Bolas Novas “ que faziam a alegria das crianças. Por isso, nós, os vossos pais, com o nome da nossa Associação, tentamos homenagear alguém que tão conhecido foi (e é), na nossa terra, o Sr. Daniel dos Bolos, mais conhecido pelo «BOLA NOVA» ”. Terminou a venda de bolos aos 89-90 anos. Figura popular na Costa de Caparica e no concelho de Almada, era reconhecido em todo lado. «Lá vai o Daniel “Bola Nova”» diziam, «Lá vou eu» dizia ele.
 
Foi um apaixonado pelo ciclismo, como amador. Tinha também uma grande paixão pelo seu último táxi, um Mercedes 220, que só deixou de conduzir 5-6 meses antes de falecer. Impossibilitado de o conduzir sentava-se frequentemente ao volante.

 A Junta de Freguesia da Costa de Caparica e o concelho de Almada não podem esquecer esta simpática pessoa que foi figura popular e rosto das praias da então Vila da Costa de Caparica, durante décadas. DANIEL “BOLA NOVA” está de forma indelével associado à terra que ele tão bem conheceu e palmilhou vezes sem conta. É acto de justiça para com a terra e suas gentes e uma mais valia para a cidade atribuir seu nome a uma artéria da Costa de Caparica : a Rua Francisco António Daniel ( DANIEL “BOLA NOVA”).

 Faleceu em Dezembro de 2001, com 91 anos. Está sepultado no Cemitério da Costa de Caparica.

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Gente de Almada, Gente Que Viveu Almada

Victor Ferreira, Poeta, foi um jovem que no final dos anos sessenta e na década de setenta vivia em Almada frequentando com os amigos ligados às letras e às artes e, outros, os cafés habituais: o Central e o Repuxo. Deixou Almada, dizem-nos, para regressar a sua terra natal. Não sabemos onde reside actualmente. Estamos a procurar junto de quem com ele conviveu mais perto, saber seu paradeiro para acrescentar mais alguns elementos a este post. Possuímos dois pequenos livros de poemas dele. Um, tem o simples nome "Poemas" Ed. 24-11-75, o outro "Trilho" Ed. 16-12-76. Aqui deixamos um poema de cada um, respectivamente:

quando quiseres rir - ri
quando quiseres
chorar - chora
não és
um verdadeiro homem?

nasci com o sonho de mil ícaros
não tenho tempo nem pátria
apenas herdei
esta febre de voar

terça-feira, 18 de setembro de 2007

Gente de Almada, Gente Que Vive Almada

Carlos Soares, Escultor, residente no concelho de Almada, nasceu em Lisboa em 1944. Foi durante a sua adolescência, que se iniciou junto de seu pai no restauro de arte sacra. Entretanto frequentou a Escola de Artes Decorativas de António Arroio.
Em 1970 realizou uma viagem de estudo pela Europa.
Durante muitos anos foi integrante de uma Tertúlia de Amigos frequentadores do Café Central e da Pastelaria Repuxo.
Residindo em Almada tem actualmente o seu atelier em Lisboa, sendo possível encontrá-lo, no barco pela manhã , atravessando o Tejo para se dirigir ao seu local de trabalho.
Encontra-se referenciado em "Portuguese 20th Century Artists" de Michael Tannock e "Homens e Mulheres Vinculados às Terras de Almada" de Romeu Correia.
Participou em numerosas Exposições Individuais e Colectivas entre as quais: Academia Almadense (1969); XV Salão da Primavera, Costa do Sol (1970); Exposição de Artes Plásticas, Almada (1970); Circulo Cultural Luso-Espanhol (1970); Galeria de Arte "O País" (1980); Exposição de Verão, Sesimbra (1980); Salão Convívio SNAB (1980); Viva, Almada (1982); Imargem 82 Associação dos Artistas Plásticos do Concelho de Almada (1982); Largos Horizontes-Sociedade Nacional de Belas Artes (1984); Galeria "Diário de Notícias" (1985). (a completar)
Prémio Instituto Español de Lisboa
Troféu Circulo Cultural Luso-Espanhol
Carlos Soares hoje não é o jovem que vemos na foto, mas continua a ser aquilo que sempre foi, o artista interessado nos seus trabalhos, distanciando-se de facilidades e de mexericos para se empenhar e dar formas à sua criatividade, para ser o homem livre e criativo que sempre gostou de ser.

sexta-feira, 10 de agosto de 2007

Coisas de Almada e de Gente Que Viveu e Vive Almada

O Externato Frei Luís de Sousa, “O Frei” para os alunos, situado na Praça do MFA (Praça da Renovação) é em Almada uma referência e um símbolo da cidade. “O Externato Frei Luís de Sousa, construído, propositadamente, pelo Patriarcado de Lisboa, segundo os métodos da moderna pedagogia, está empenhado em ser o melhor colaborador dos pais na instrução e educação de seus filhos. Aqui encontram os alunos do Ensino Primário e Liceal ambiente propício a esta finalidade.

Neste Estabelecimento de Ensino, procura dar-se aos educandos a cultura necessária correspondente às exigências dos programas oficiais e ainda aquela formação de carácter que os levará a desempenhar, com dignidade, a função social que lhes está reservada na vida. Sendo as virtudes humanas o fundamento das virtudes cristãs, pretende o Externato proporcionar aos alunos um ambiente de verdade e sã alegria.” (do folheto editado pelo Externato, no seu início, com as Condições de Admissão e Preçário).

 “O Frei” actualmente pertence à Diocese de Setúbal, estando construído no local onde se realizou durante alguns anos a Feira de Diversões, por altura das Festas da então Vila de Almada, em honra de S. João Baptista, seu Padroeiro.
O Externato Frei Luís de Sousa tem sido ao longo dos anos local de passagem, de encontro e de partida de muitos jovens que aí iniciaram os estudos, uns pela primária, outros o secundário que lhes deu acesso a estudos superiores. Para lá do ensino em horário diurno, o Externato Frei Luís de Sousa iniciou no final dos anos 60, o ensino liceal nocturno destinado a adultos, cujo êxito se deve ao Director desse Curso, Dr Caldeira Pais, seu iniciador e dinamizador.

Com um corpo docente de qualidade, da primária ao liceu, o Externato Frei Luís de Sousa iniciou a sua actividade em 8 de Outubro de 1956 sob a Direcção do Padre João Cabeçadas, substituído anos mais tarde pelo Cónego Gonçalves Pedro, também Reitor do Seminário de Almada. De entre os Directores recordamos ainda o Padre Jaime, posteriormente Pároco de Almada e o Padre Brito.

 Do corpo docente recordamos aqui alguns elementos que leccionaram no “Frei”: Pe Albino Cleto, actual Bispo de Coimbra (Latim), Dr. António Lobo (História), Profª. Bibiana (Ensino Primário), Dr. Calado (Inglês), Dr. Caldeira Pais (História e Filosofia), Monsieur Etienne Pourtallés (Francês), Prof. Francisco D´Orey (Música), Dr. Francisco Santana (História), Dr. Francisco Taborda (Geografia), Prof. João Afonso (Música), Dr. João Moita (Grego e Latim), Ten. Jonet (Educação Física), Pe Louro (Música e Religião e Moral), Dr. Manuel Formiga (Matemática), Dr. Marcelino Horta (Ciências Naturais e Biologia), Drª Maria Alice ( Português e Francês), Drª Maria da Graça (Matemática), Drª Maria Leonor (Físico-Quimica), Dr. Mário Fernandes (História), Prof. Oleiro (Ensino Primário) Prof. Sequeira (Educação Física), Prof. Silva Marques (Educação Física), Pe Sobral (Religião e Moral), Drª Teresa Dingle (Desenho), Diácono Dr. Viana da Costa (Filosofia).
 Dos funcionários temos presente: Srª Carminda (Contínua), Sr. Caldeira (Porteiro), Sr. David (Porteiro), Sr. João António (Contínuo, posteriormente funcionário da Secretaria), Srª Margarida (Contínua) Sr. Mário Filipe (Contínuo, posteriormente Chefe da Secretaria), Sr. Muller ( O primeiro Porteiro do “Frei”), Sr. Possidónio José (Contínuo, posteriormente Chefe da Secretaria), Sr. Teixeira (Contínuo), Sr. Vitorino (O primeiro Chefe da Secretaria). 
O Externato Frei Luís de Sousa dispunha ainda no seu início de uma Equipa Clínica formada pelo Dr. Catarino e sua Esposa também médica. Viemos a encontrar o Dr. Catarino anos mais tarde num hospital, onde exercia a especialidade de Anestesista.



O Dr. Viana da Costa foi um verdadeiro mestre nas aulas, com um relacionamento inovador para a época com os alunos, dentro e fora da sala de aulas, incentivando-os a enriquecerem os seus conhecimentos culturais na área das ciências humanas. Os alunos cognominaram-no de “O Ginjas”. Sabendo que assim era referido pelos alunos, nunca revelou relutância ou manifestou qualquer animosidade por isso. Hoje todos seus alunos se recordam de “ O Ginjas” com a satisfação de o terem tido como mestre e amigo.
O Cardeal Manuel Cerejeira, então Patriarca de Lisboa, visitou "O Frei" algumas vezes.
O Externato Frei Luís de Sousa, mediante protocolo, deu ainda preparação em curso nocturno, durante alguns anos a pessoal da Marinha Portuguesa (Sargentos e Praças) do Pré-CFOSE, a qual tinha por objectivo habilitar aqueles militares a concorrerem ao CFOSE - Curso de Formação de Oficiais do Serviço Especial.
O autor desta resenha fez o Curso Liceal no “Frei”, tendo posteriormente também leccionado aí, no Curso Nocturno.

sexta-feira, 13 de julho de 2007

Gente de Almada, Gente Que Vive Almada

Carlos Peixoto da Silva Sameiro, nasceu em Aveiro, a 20 de Agosto de 1910, vive em Almada. É viúvo, a esposa faleceu há 3 anos, tem uma filha com quem vive.
Carlos Sameiro foi o penúltimo Faroleiro do Farol de Cacilhas. Seu pai também foi Faroleiro.
Começou a trabalhar aos 12 anos como aprendiz de serralheiro. Saíu de Aveiro aos 3 anos de idade e voltou à sua terra natal só aos 17 anos, onde permaneceu um ano.
Tirou o primeiro Curso de Faroleiro em Leça da Palmeira (Matosinhos), tendo entrado para o Serviço de Faróis aos 18 anos, como Faroleiro supranumerário, em S. Martinho do Porto. Fez o 2º Curso - Complementar de Faroleiro Chefe, também em Leça da Palmeira aos 51 anos.
O exercício da profissão que abraçou, levaram-no a uma vida de nómada ao longo da costa portuguesa.
Para além de S. Martinho do Porto, prestou serviço em outros faróis:
Cabo de S. Vicente (2 vezes), Sagres (2), Alfanzina- Praia do Carvoeiro/Lagoa (1), Vila Real de S. António (1), S. Julião da Barra (2), Cabo Espichel (2), Cabo Raso (1) Aveiro (1) e Cacilhas onde esteve três vezes: 1936, como faroleiro de 3ª classe, depois nos anos 40 (faroleiro de 1ª classe) e pela terceira e última vez no exercício da sua profissão, como Faroleiro Chefe, de onde saíu para a reforma em 1972.
Quando prestou serviço no Farol de Cacilhas, residiu na Casa do Faroleiro, situada na Rua Cândido dos Reis, nº 3, em Cacilhas.
De todos faróis onde prestou serviço, foi o de Cacilhas pela sua localização e vivência local que mais o atraíu e mais gostou.
Por onde passou, paralelamente à sua actividade profissional, dedicava-se ao conserto de relógios, a pedido dos amigos e conhecidos.
Após a reforma, ficou a viver em Almada onde o podemos encontrar, por vezes, pelo final das manhãs e fins de tarde, na Praça do MFA (ex-Praça da Renovação) em cavaqueira com seus amigos mais jovens.
Ao Sr. Carlos Sameiro, cidadão ligado à vida de Almada e dos cacilhenses, após esta breve e simples resenha da sua vida, desejamos-lhe saúde para comemorar o seu centenário e prolongar o convívio com seus amigos e conhecidos desta cidade, que escolheu para residir.

sexta-feira, 6 de julho de 2007

Gente de Almada, Gente Que Viveu Almada

Arménio Reis era natural de Almada, nasceu em Cacilhas a 13 de Julho de 1934. Cidadão de grande talento artístico, começou na sua meninice a trabalhar em ourivesaria. Mais tarde dedicou-se à pintura e foi como aguarelista que também nos deixou excelentes trabalhos. Para lá da pintura, Arménio Reis revelou os dotes criativos das suas qualidades inatas, na decoração, cenografia, grafismo e na poesia que dedicava espontaneamente aos amigos. Participou com seus trabalhos em várias exposições em Portugal e além fronteiras. Os seus trabalhos encontram-se espalhados pelo Mundo.
Arménio Reis era uma pessoa com ideias e vivência próprias, que não esquecia as dificuldades económicas e as carências que ele e seus pais tinham passado e sempre soube retribuir o reconhecimento a quem tinha ajudado os seus a ultrapassar alguns momentos menos felizes.
Arménio Reis, na década de 90, era figura presente pelas manhãs e tardes à mesa de Café na Praça da Renovação, (Praça MFA), com muitos de seus amigos entre os quais: Francisco Bastos, Jaime Feio, Carlos Durão, João Samorrinha, Miguel Cantinho, Henrique Mota e Fernando Coelho. Os momentos vividos com ele foram sempre ocasião para períodos de boa disposição e normalmente era nesses momentos que Arménio Reis rascunhava num qualquer papel, às vezes na toalha de papel da mesa ou num guardanapo, umas quadras dedicadas a um dos presentes, assim como em ocasiões, rascunhava qualquer coisa que não era uma coisa qualquer. Até num prato de servir bolos no café, o Arménio Reis fazia pintura de improviso que oferecia à empregada.
Pessoa humilde, Arménio Reis tinha um carinho especial por um companheiro de tertúlia também pessoa boa, João Samorrinha, de mais idade, mas baixinho. Quando o via chegar tinha sempre uma tirada que fazia rir o pessoal, entre elas esta: “Fui levar o puto à escola de manhã e ele já aqui está. Fugiste?” Numa das vezes em que de improviso o Arménio Reis escreveu umas quadras, estas dedicadas ao seu amigo Francisco Bastos, estavamos presente e aqui as reproduzimos.

Ainda me lembro bem
Quando te via correr
Corrias como ninguém
Até dava gosto ver 

De passada forte e larga
Corre o leão sob o peito
Da memória não se apaga
Da massa que eras feito 

Não gosto de te ver triste
Que me aperta o coração
O que foste e o que viste
Nem pareces um leão. 

Arménio Reis faleceu, um tanto ou quanto inesperadamente porque inicialmente nada fazia prever esse desenlace, em 5 de Fevereiro de 1997, após um período de internamento no Hospital Garcia de Orta, em Almada, onde ainda o visitámos por duas vezes.

sábado, 23 de junho de 2007

Coisas de Almada e de Gente que Viveu Almada

NOTÍCIAS DA ÚLTIMA HORA

"A ´ESTRÊLA DO GINJAL, Lda.,´ (a afamada Casa das Conchas) no Ginjal, nºs 18, 19, e 20 de Albino Pereira & José Rodrigues do Vale (O Zé da Avó), que tem o telefone Almada 111, depois de concluída a primeira parte das formidáveis obras porque vai passar para confôrto e comodidade dos seus já inúmeros clientes, tem a honra de ofertar a V. Exªs. os Versos que se seguem, os quais foram oferecidos por um dos melhores fregueses da casa, e que achamos dignos de publicação:"
(clique na imagem para aumentar)
Este curioso folheto,uma relíquia, refere-se a uma CASA de COMIDAS, afamada no Ginjal, em Cacilhas nos anos 40, que fazia daquele local uma atracção gastronómica, onde o charroco e as eiroses faziam a gala da comida desta Casa.
Leiam-se os versos do folheto de "marketing" para a época.
Por informação de um ilustre cacilhense, soubemos que esta casa era propriedade dos pais da antiga cantora nacional Madalena Iglésias, sendo a mãe Espanhola referida nos versos e o pai português, o Sr. José Rodrigues do Vale (O Zé da Avó).
Ainda segundo a informação que tivemos, quando acabou a "Estrêla do Ginjal" após a saída do Sr. José Rodrigues do Vale, a Casa perdeu as conchas e foi aí instalada a primeira Fábrica da Martini em Portugal - produtora da bebida martini, pela Casa Teotónio Pereira, que possuia também outras instalações comerciais no Ginjal.
A penúltima quadra impercepível no final, na imagem, tem a redacção:
"De facto é no Ginjal
Mesmo que igual se pinte
A Casa a quem ninguém faz mal
Tem os nºs 18, 19 e 20"

sábado, 16 de junho de 2007

Gente de Almada, Gente Que Viveu Almada


Campeã Nacional de Atletismo
Almerinda Correia nasceu em Sesimbra a 9 de Março de 1920. casou com Romeu Correia em 31 de Outubro de 1942. ano em que começou a praticar atletismo. Representou o União Sport Clube Almadense e, após a fusão deste com o Pedreirense Futebol Clube, passou a fazer parte do Almada Atlético Clube. De 1942 a 1949 conquistou cinco campeonatos de Portugal e seis de Lisboa.
Onze segundos lugares e dezasseis terceiros.
Praticando corridas, saltos e lançamentos, só nestes últimos foi vencedora (peso, disco e dardo).
O casal teve uma filha, Julieta Rosa e dois netos, João Vasco e Ana Margarida.
Como curiosidade desportiva, podemos acrescentar que Almerinda foi a primeira atleta a representar o Almada Atlético Clube, fundado em 20 de Julho de 1944. No dia seguinte, costurou o equipamento e como vencedora do campeonato de Portugal por clube que ainda não tinha bandeira, fez subir a camisola no mastro de honra do Estádio Nacional em Lisboa.
Romeu Correia

domingo, 3 de junho de 2007

Gente de Almada, Gente Que Viveu e Vive Almada


Foto do passeio de 1950 da Firma José Pinto Gonçalves Lda
(para aumentar clique sobre a foto)
José Pinto Gonçalves foi proprietário de um Armazém de Géneros Alimentícios (Mercearia) em Almada, desde finais do Séc. XIX até 1956. Natural de Vila Cova do Alva, concelho de Arganil, onde nasceu a 15 de Novembro de 1871, faleceu em Almada, em 1956 com 84 anos.
José Pinto Gonçalves veio para Lisboa aos 17 anos para trabalhar na construção civil, tendo conseguido o seu primeiro emprego na construção do Liceu Passos Manuel, como ferramenteiro, porque sabia ler e escrever. Este homem, beirão de nascimento, mas almadense por opção para trabalhar e governar a vida, foi um verdadeiro empreendedor para a época, final do Séc XIX.
Em Lisboa e de sociedade com Joaquim Mendes, natural de Pomares, Arganil, alugou um quiosque no Cais do Sodré e aí montaram um negócio. Deixou depois a sociedade do quiosque e resolveu atravessar o Tejo para se radicar em Cacilhas, onde viria a abrir a Mercearia Beira Alta, na Rua Cândido dos Reis, junto ao antigo chafariz.
Casou com Maria Laura Pinto. Como a esposa tinha conhecimentos de tecidos, vislumbrou diversificar o negócio, passando a vender fazendas e tecidos na mercearia. O casal teve três filhos: Maria Sara, Maria de Lourdes e José Carlos Pinto Gonçalves, o mais novo dos três filhos. Quando do nascimento do primeiro filho do casal, a esposa passa a dedicar-se às tarefas domésticas para acompanhar de perto os filhos e a mercearia deixou de vender fazendas e tecidos. José Pinto Gonçalves não se resignou com a diminuição da actividade. Decidiu incrementar o negócio, desenvolvendo a mercearia fez um autêntico “up-grade” para a época, transformando-a no Armazém de Mercearias José Pinto Gonçalves, no mesmo local, tendo para o efeito comprado uma garagem nas traseiras da mercearia. Mais tarde, deu sociedade no armazém a seu sobrinho António Leal Pinto, também de Vila Cova do Alva, passando a firma a designar-se José Pinto Gonçalves Lda.
Em 1 de Agosto de 1950, acompanhando o crescimento de Almada, o armazém foi transferido para a Av. D. Afonso Henriques nº 15, em Almada (local do actual “Baratão”). A criatividade e o dinamismo de José Pinto Gonçalves, associados ao seu espirito solidário fizeram com que expandisse a sua actividade, quer isoladamente, quer em sociedades. Em frente ao seu armazém em Cacilhas instalou um posto de venda de gasolina.
Estabeleceu um armazém de vinhos no prédio onde funcionou o reconhecido Restaurante Floresta do Ginjal em Cacilhas, e uma Fábrica de Refrigerantes na Av. António José Gomes, na Cova da Piedade, onde também possuía uma mercearia e uma cavalariça. Em Almada, na Boca do Vento, em frente ao antigo edifício da Repartição de Finanças, foi proprietário de uma mercearia em sociedade com José Leal Pinto, também seu sobrinho. 
A firma José Pinto Gonçalves Lda, empregava cerca de 50 pessoas, contando para apoio logístico ao seu empreendimento e negócio, 5 viaturas auto de carga, uma galera, uma carroça, um veículo especial de tracção animal designado por “Diabo” para carregar e descarregar cascos de vinho e ainda viaturas auto ligeiras para os seus caixeiros viajantes.
Anualmente, José Pinto Gonçalves organizava um passeio pelo País para o seu pessoal, sendo a foto acima exibida referente ao passeio de 1950, captada junto à barragem de Castelo de Bode. José Pinto Gonçalves, de cabelo branco, está nesta foto ao centro, envergando fato preto, tendo à sua esquerda seu filho o Dr. José Carlos Pinto Gonçalves.
O Dr. José Carlos Pinto Gonçalves, Licenciado em Direito, tinha escritório de Advocacia na R. do Crucifixo nº 28 - 2º em Lisboa, foi preso pela polícia política por integrar a Comissão de Homenagem ao Prof. Egas Moniz, da qual faziam parte o Prof. Rodrigues Lapa, Prof. Rui Luís Gomes, Engª Virgínia de Moura e a Escritora Maria Lamas, também eles presos então.
Tivemos a oportunidade de conhecer pessoalmente o Sr José Pinto Gonçalves entre 1953-1955. Agradecemos ao neto do Sr. José Pinto Gonçalves, o Sr. Carlos Alberto Pinto Durão, na foto em primeiro plano, de camisa branca, à esquerda do senhor que tem o chapéu na mão, a colaboração que nos deu na elaboração destes breves apontamentos.

sábado, 12 de maio de 2007

Gente de Almada, Gente Que Vive Almada

FOTO 1º MAIO 1974 – Pragal - ALMADA
Da esquerda para a direita : em pé – Alfredo; [ ? ]; Luís (Meia-Cuca) sentados – Jorge Crisóstomo (Jorge BéBé); Costa; Jorge Maçaroca; Neca; Mário Carvalho; José Luís (Cheta dos Perfumes); Jara O 11º elemento do grupo,(improvisado fotógrafo) não consta da foto ,como é natural. Os mais jovens da foto eram crianças, hoje adultos, certamente do Pragal.
Em 1 de Maio de 1974, um grupo de 11 jovens (naquela data) almadenses, pretendiam comemorar a Revolução de Abril de 1974 em convívio à volta de uma mesa onde pudessem comer alguns petiscos e beber umas imperiais. Encontravam-se na Praça da Renovação, junto ao seu ponto de encontro e convívio habitual, o Café Central.
Naquele primeiro 1º de Maio, após o 25 de Abril, tudo estava encerrado. Era um autêntico marasmo, em que as pessoas se arrastavam pelas ruas, de lojas e estabelecimentos comerciais encerrados, incluindo cafés e restaurantes. Depois de uma Revolução que devolveu as liberdades fundamentais à população, era triste ver as ruas sem a dinâmica a que estávamos habituados.
O proprietário de qualquer Café ou Restaurante que tivesse a veleidade de ter abertas as suas portas nesse dia em lugar visível, era apelidado de fascista, reaccionário, contra-revolucionário, explorador da classe operária ou saudosista do anterior regime. Assim, que esses jovens se tivessem questionado entre si onde seria possível quebrar aquele marasmo do dia.
 Alguém alvitrou que o Restaurante "GINA" no Pragal, junto da Cooperativa, estaria aberto. Rumámos até lá e de facto era verdade. Comeram-se uns petiscos: febras de porco, queijos, chouriço assado, umas fatias de presunto com pão caseiro e tremoços, tudo acompanhado de bebidas, vinho tinto para uns, imperial para outros e ainda água e refrigerantes. Cantou-se durante a petisqueira e, aqui, aconteceu que os donos do Restaurante pediram à malta que cantasse baixinho devido a não incomodar a vizinhança, pois poderia algum vizinho ou alguém sentir-se mal com o ruído e denunciar o Restaurante junto das forças vigilantes do MFA, ou de forças de esquerda "progressistas", dado aquele 1º de Maio ser Dia do Trabalhador e o Restaurante ter pessoas, os donos, a trabalhar voluntariamente. Coisas de então...daquele tempo em que tudo e todos tinham algum medo... outros medos... de vanguardistas ou auto-intitulados vanguardistas/vigilantes da Revolução, enfim de serem denunciados...
Tudo correu bem e não houve excessos de bebida. Saímos e fez-se a foto, para a posteridade junto do restaurante.
Hoje, felizmente já se ultrapassaram alguns preconceitos de então e a comemoração do 1º de Maio é feita com liberdade, sem medos e sem perseguições.
Ainda se encontra por Almada a maior parte destes convivas.

sábado, 5 de maio de 2007

Coisas de Almada e da Gente de Almada

Divulga-se um Programa das "Grandiosas Festas da Primavera" com artistas nacionais e estrangeiros, da Sociedade Incrível Almadense, da qual sou associado, referente a Abril de 1935, com algumas curiosidades e surpresas anunciadas para cavalheiros e damas.
Destaca-se a "cóta" de 1$50 para cavalheiros e 1$00 para damas, elevadas quantias para a data, a sala perfumada com o perfume Dourado, da Perfumaria Dourado da Rua da Prata em Lisboa e a necessidade de os cavalheiros trajarem de escuro em duas noites.
E a "Ceia Americana "?
Hoje e nesta Almada "democrática" seria possível uma ceia americana? Uma Ceia "Imperialista"?
Haveria de certeza uma manifestação expontânea anti-imperialista, convocada pelas mais amplas forças democráticas, com as habituais palavras de ordem, às portas da Incrível contra o "Tio Sam".
Mentira. Não haveria manifestação alguma, porque nem sequer haveria qualquer Ceia Americana, quanto menos inscrições para a Ceia, mas sim uma ceia democrática ou uma sopa para pobres.

domingo, 22 de abril de 2007

Gente de Almada, Gente Que Viveu Almada

Dr. José Malheiro da Silva, não sendo natural de Almada, radicou-se e viveu aqui desde 1960. Tinha o seu consultório de Estomatologista no Laranjeiro, por cima do Café Oásis, onde o conheci em 1969.
Minhoto, nasceu em Venade, concelho de Caminha, tendo estudado medicina em Coimbra e no Porto. Faleceu em Almada aos 70 anos de idade.
Médico competentíssimo na sua especialidade, disso tenho as naturais provas.
O Dr Malheiro era uma pessoa com peculiaridades naturais, que a uns agradavam a outros menos.
Foi um antifascista de primeira linha no concelho de Almada. Privei com ele alguns momentos de amenas cavaqueiras sobre política antes do 25 de Abril de 1974 e posteriormente, quer no Café Oásis, quer no café Central em Almada, quer quando nos encontravamos na rua, quer também no seu consultório, que frequentei por algum tempo em tratamentos.
A nossa amizade e camaradagem foi além das visitas de consultório e permaneceu até que a morte o separou do convivio dos seus amigos.
Da sua luta antifascista no concelho salientam-se as numerosas actividades politico-culturais desenvolvidas, os comícios em que participava, orador notável, onde empolgava a assistência com incisivas e arrojadas declarações políticas ao lado de outros antifascistas. Recordo aqui um comício da Oposição Democrática, realizado na Incrivel Almadense em 1973, onde o Dr. Malheiro e José Correia Pires (anarquista) deram uma grande bordoada no regime através das suas intervenções.
O Dr. Malheiro, pessoa de grande formação político-cultural tinha uma forte personalidade, um caracter firme e determinado que o marcaram na luta antifascista no concelho de Almada, não se deixando embalar, nem embarcar em demagogias.
Para além de médico e lutador antifascista, o Dr José Malheiro da Silva distinguiu-se também como conferencista e associativista.
Foi dirigente de várias colectividades no concelho de Almada, tendo dedicado algum do seu tempo ao estudo do Associativismo Popular.

domingo, 8 de abril de 2007

Coisas de Almada e da Gente de Almada

Porque estará neste estado a casa onde nasceu o notável almadense Maestro Leonel Duarte Ferreira, na designada "Rua Direita", a Rua Capitão Leitão, tão próximo dos Paços do Concelho?
Para cúmulo, estas ruínas ostentam uma placa evocativa deste almadense, datada de 1959, uma homenagem da edilidade de então.
Será por isso que os "democratas actuais", não se mostram interessados em recuperar/preservar o edifício, negociando com os proprietários ? ou o negócio imobiliário está a imperar?
Afinal até se queima tanto dinheiro em fogos de artifíco e em super espectáculos musicais, e deixa-se em ruínas a casa onde nasceu um almadense que dedicou a sua vida à música, na sua Academia Almadense .
Ou será para fazer dois em um: ver as ruínas e a placa evocativa?
Almada cidade arqueológica?

quarta-feira, 28 de março de 2007

Coisas de Almada e da Gente de Almada

MARCHAS DE CACILHAS "Cantigas no ar Andam pelo ar cantigas Lá vai a cantar Cacilhas Cacilhas passa a cantar".....Andavam cantigas pelo ar. "Cacilhas de antigamente Cacilhas dos catraeiros Cacilhas das caldeiradas Cacilhas das Petiscadas no Ginjal"...era, hoje não é mais! " Cacilhas de antigamente era diferente" ....Hoje, é a Cacilhas das ruínas no Ginjal ou do Ginjal em ruínas. a Cacilhas com o antigo Quartel dos Bombeiros em ruínas, por incúria da CMA a Cacilhas descaracterizada a Cacilhas local de passagem, jamais local de estar para admirar Lisboa. ...Amanhã, será a Cacilhas do terminal ferroviário sem o morro e o moinho, porque já é a Cacilhas sem Farol... depois será a Cacilhas sem vida, a Cacilhas envelhecida... a Cacilhas que já foi. Como Cacilhas foi e, agora está a ser tão maltratada!

sábado, 17 de março de 2007

Gente de Almada, Gente Que Viveu Almada

O Dr. Henrique Barbeitos, não sendo natural de Almada, aqui se notabilizou como médico e grande figura da oposição democrática ao regime salazarista. Nasceu a 19 de Maio de 1907 em Barcelos. Cursou medicina em Coimbra. Fez o internato Hospitalar em Lisboa, fixando-se em Almada, onde se notabilizou como médico, como Homem e resistente político. Pessoa simples, exercia a sua actividade profissional com raro sentido de devoção às pessoas, aos doentes. Vimo-lo várias vezes prestando assistência a gente pobre, com quem estabelecia uma relação fraterna e solidária, não cobrando sequer quaisquer honorários pelos seus serviços, aos quais muitas vezes dava amostras dos medicamentos quando se apercebia das reais dificuldades económicas dos doentes. Conheci pessoalmente o Dr. Henrique Barbeitos em 1954, quando ainda dava consultas na sua residência na R. Bernardo Francisco da Costa, posteriormente convivi com ele à mesa do Café, juntamente com outros amigos, com quem ele tinha muito prazer em falar sobre questões de índole sócio-política e de Almada, até que as condições físicas e seu estado de saúde o impediram de se deslocar ao Café. O Dr. Henrique Barbeitos tinha um jeito muito suave de falar com as pessoas. Nunca elevava a voz. Sentia, quem falava com ele, que a sua voz era voz de amigo. Para além do reconhecimento público e popular pela sua actividade médica e intervenção política, este médico, que adoptou Almada como terra sua, não esquecendo nunca Barcelos, granjeou naturalmente um numeroso grupo de amigos que lhe ficaram muito gratos, por tudo o que ele fez por Almada e por sua gente.
Este Homem, que a Almada dedicou a maior parte da sua vida, merecia que seu nome estivesse associado a uma Rua ou Avenida de maior visibilidade deste concelho.

domingo, 11 de março de 2007

Coisas de Almada e da Gente de Almada

 

A GRANDE MARCHA DE ALMADA 1956
Meio Século atrás em que se vivia Almada, em que Almada se divertia.
Havia Festejos e Arraiais Populares sem tribunas de notáveis sorridentes e beijoqueiros.
Era o povo que tomava conta das ruas. Não havia subsídios ao Associativismo, que nesse tempo era mesmo Popular e sem controlo partidário.
Era povo genuíno que trabalhava e lutava por dias melhores irmanado num colectivismo sádio e solidário, livre das amarras politicas de que hoje enfermam neste concelho, muitas colectividades, clubes e associações culturais.
Não havia a subsídio-dependência política.
Havia repressão política, é certo. O povo não era livre de se manifestar, mas tinha um forte sentimento de liberdade. sabia onde estava o inimigo e sabia o que queria.
Hoje as aparências iludem e enganam o povo.
O Povo hoje é desmotivado a participar. Dizem-lhe que há quem pensa por ele e só nele.
Há uma inflação de vendedores de ilusões....

quarta-feira, 7 de março de 2007

Gente de Almada, Gente Que Viveu Almada

José Correia Pires, natural de S. Bartolomeu de Messines, Algarve,viveu em Almada. Aqui o conheci, com ele e outros democratas partilhámos momentos de conversa sobre a sua vida vivida numa luta constante na clandestinidade, na prisão e em liberdade vigiada, por ideais de justiça e de humanidade que não é comum encontrar-se entre muitos homens. Em Almada, Correia Pires esteve sempre disponível, quando foi preciso colaborar com todas as forças políticas contra o regime que cerceava a liberdade aos portugueses e os oprimia. Anarquista, José Correia Pires foi homem de primeira linha na batalha contra a opressão, pela liberdade e pela solidariedade entre os homens. Foi deportado para o Campo de Concentração do Tarrafal em Cabo Verde entre 12/6/1937 e Fevereiro de 1945, onde passou várias vezes pela “Frigideira”, junto com outros companheiros. Deixou-nos um livro “Memórias de um Prisioneiro do Tarrafal, escrito em 1974, onde descreve parte da sua vida, do qual transcrevemos estes extractos:

“Por convicção e temperamento fui sempre socialmente amigo de toda a gente e, se por vezes pareço ou sou mesmo alguma coisa drástico ao que não me parece bem, a verdade é que sempre preferi exaltar virtudes a arengar defeitos. Afigura-se-me que quando aos outros atribuímos defeitos, nos possam acusar que com o facto queiramos esconder os nossos, enquanto que exaltar virtudes, mesmo que sejam nossas, a virtude é sempre virtude, propagá-la em teoria já é elevado, mas pela prática é simplesmente nobilizante.”...”Em todo este arrazoado se pode depreender que o sectarismo não é de cultivar e, se o amor às ideias se pode aceitar como princípio, o ódio ao adversário é situação que nos animaliza e apouca.”
Sobre um episódio ocorrido no Campo do Tarrafal :” A verdade, porém, é que a inflexibilidade do Partido (PC) foi sempre ao longo do tempo, expressão de intolerância e os que não acatassem as suas palavras de ordem eram votados ao ostracismo e, em tudo lhes dificultavam a vida.”
Após o 25 de Abril de 1974, sabendo que um dos seus carrascos, julgo que o Seixas, estava preso em Caxias, pediu-me se conseguiria autorização para o levar a ver o carrasco na prisão. Consegui e levei-o a Caxias. Fizeram-lhe uma recomendação: abririam a portinhola de observação, mas ele, Correia Pires não poderia dirigir qualquer palavra ao preso. Aceitou. Mal abriram a portinhola Correia Pires, conseguiu reconhecer o homem que o havia maltratado e torturado . Este imediatamente virou o rosto quando se sentiu observado. Provavelmente reconheceu o "seu" ex-prisioneiro. Reparei na expressão facial do meu amigo Correia Pires naquele importante momento da sua vida. Essa expressão não era de vingança, mas sim de satisfação por sentir, talvez, que havia sido feita justiça. Aquele que tinha sido seu carrasco finalmente já não torturaria mais ninguém. Julgo que Correia Pires nunca mais esqueceu aquele curto momento em Caxias, onde também ele esteve preso, tal qual não esqueceu os anos de sacrifício que passou longe da família, na clandestinidade e na prisão. “ Que poderei dizer dum homem irmão dos outros homens que conheceu, por vezes, a prisão, a clandestinidade, a fome e a miséria e que esteve 8 anos no campo de Concentração do Tarrafal? Sei que aos 68 anos de idade, vem contar ao povo seu amigo episódios vividos por si. Para dizer o que lutou, sofreu e sonhou. Sonhos de liberdade do seu povo real....” (do prefácio de seu Livro, do amigo A. Madeira Santos) “ O ANARQUISMO é uma doutrina que o TIRANO esmaga, mas que O JUSTO E O HERÓI praticam e a NATUREZA NOS ENSINA.” Correia Pires

José Correia Pires saiu em liberdade, no dia 9 de Março de 1945, depois de regressar à metrópole e ainda ter estado preso em Caxias uns dias.

domingo, 4 de março de 2007

Gente de Almada, Gente Que Vive Almada

Com o devido acordo, insere-se este "post" do Blog http://emalmada.blogspot.com Domingo, Março 04, 2007 Cidadania e Participação Política Em...Almada, Domingo 1 de Fevereiro de 1970, pacificamente aconteceu isto. Jovens estudantes uniram-se e tomaram uma decisão e uma atitude em sua defesa e de seus direitos. Outros tempos... Não havia aqui "política"? Claro que havia e há sempre, porque sempre que o(s) cidadão(s) toma(m) uma atitude em defesa de seus interesses e do interesse colectivo está(ão) a fazer política. Hoje aqueles que tomam de "assalto" o poder, qualquer que seja, por via democrática, acham que o cidadão não deve defender os seus interesses nem deve intervir, não deve fazer política, porque esses entendem que o voto é uma procuração e que só eles é que estão credenciados para fazer politica. Não é assim. Quem é eleito, é para assumir responsabilidades dos seus actos perante os eleitores e não para pisar os eleitores.

Esta notícia, a do lado esquerdo, saiu no mesmo dia 1 de Fev1970 no "Diário de Lisboa" e a do direito, no dia seguinte 2ª feira no vespertino "A Capital". Recordo aqui um jovem estudante de então, o Luís Montelobo, hoje Engenheiro Químico, algures trabalhando no Norte, se já não estiver reformado! Foi ele que coordenou esta jornada e foi o interlocutor com a Gerência do Café Central de então. Não houve intervenção policial. Aqui houve bom senso da Gerência em não chamar a PSP. Foi uma ocupação pacífica, em que os jovens de então, adquiriram meia dúzia de exemplares do Diário de Notícias, por quotização e foi distribuída uma folha a cada um, que a abria simulando leitura. Outro pormenor, foi que o café começou a ser ocupado pacificamente a partir das 13 horas, sentando-se de início só um em cada mesa com uma bica, até esgotar todas as mesas. Só depois era permitido mais de um "leitor" na mesa. Recordo que nesse Domingo 1 de Fev de 1970, o Chefe da Esquadrada PSP de Almada, quando leu o Diário de Lisboa, apareceu logo no Café perguntando o que ocorrera....não tivera conhecimento...era preciso mostrar disponibilidade para manter a ordem! Aconteceu em Almada...em 1 de Fevereiro de 1970, quando ainda havia vida em Almada....Vivia-se efectivamente Almada.

sábado, 3 de março de 2007

Gente de Almada, Gente Que Viveu Almada


Era reconfortante encontrar o Jaime Feio, onde quer que fosse, no café, na rua, em Almada ou em Cacilhas, no barco, quando ia a Lisboa levar trabalhos da sua tipografia, situada no Largo dos Bombeiros Voluntários em Cacilhas, ou mesmo visitá-lo aí no seu local de trabalho, onde também se encontrava a sua irmã Nazaré , a Lé Lé, para a família.

Conversar com ele era tempo ganho, era tempo de aprendizagem com um jovem de idade mais avançada. Qualquer que fosse o assunto ou o tema, com o Jaime iniciava-se sempre uma boa cavaqueira, porque a cultura geral deste almadense era enorme e preciosa.
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As fronteiras deste nosso amigo ultrapassavam os mesquinhos limites do nosso burgo e do país. Embora tivesse viajado bastante pelo espaço geográfico não só de Portugal, o Jaime viajava pelos livros e aí poderemos dizer que levava um grande avanço relativamente a muitas cabeças supostamente convencidas que eram superiores e bem pensantes, deste nosso lugarejo, pelo facto de estarem aqui ou acolá “bem inseridos politicamente”, os autoconvencidos e "inchados".
O Jaime Feio, Almadense tal como o Francisco Bastos, era presença constante dos fins de tarde e à noite, em animadas conversas à volta de uma mesa do café, a pretexto de beber uma bica. O Jaime chegava sempre com um livro na mão, o qual seria o seu natural companheiro, se outros seus amigos não estivessem já aí. As palavras cruzadas eram tarefa obrigatória do Jaime sempre que um jornal estivesse disponível. Foi um apaixonado pelo coleccionismo: postais turísticos e de personalidades, moedas, notas e selos foram algumas das suas colecções.

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Com ele convivemos e aprendemos muito. O Jaime Feio foi um mestre para os mais novos, por quem tinha um especial carinho em estabelecer conversa sobre qualquer tema. Estava sempre disposto a conhecer pessoas e iniciar um relacionamento proveitoso para as duas partes, porque com o Jaime aprendia-se muito, mas ele também estava disposto a aprender com quem quer que fosse. Amigo da noite, o Jaime, tendo já ultrapassado os oitenta anos ainda era presença constante a partir da meia-noite das sextas-feiras na Cervejaria Cabrinha, em Cacilhas, petiscando e, bebendo uma “imperial”, com malta muito mais nova que ele.
Soube como ninguém conviver com os mais novos e estes gostavam de o ter presente. Era um natural conselheiro, a ponto de alguns seus amigos de juventude, dizerem :” Não sei o que é que este tipo tem que as miúdas vêm sempre falar com ele e dar-lhe um beijo! “. O Jaime, nada dizia, só sorria e ria-se. Era seu segredo saber fazer amizades com gente de todas as idades. 


O Jaime Feio era um Homem que cativava naturalmente as pessoas, pela sua moderação, pela sua cultura, pela sua humildade, mas também pela sua grandeza de espirito aberto a ideias novas e sobretudo pela sua abertura ao debate livre e saber dar um bom conselho sem impor nada, nem nada pedir em troca. Nem a amizade dos outros ele pedia. Vinha naturalmente.
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O Jaime era contra toda e qualquer forma de domínio do homem pelo homem, em quaisquer circunstâncias e onde quer que fosse. Para ele as palavras e conceitos de opressão, controle e exploração do ser humano, estavam banidas.
Obrigado Jaime !

quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007

Gente de Almada, Gente Que Viveu Almada

O "Chico Bastos", "O Chico" para os amigos, de seu nome Francisco de Oliveira Bastos foi um daqueles almadenses sempre fiel a Almada, ao seu passado, vivendo atento ao presente e sempre preocupado com o futuro da cidade e do concelho. Com ele e com outros privámos muitos momentos de convívio e conversa sobre a nossa terra, apesar da acentuada diferença de idades. O "Chico Bastos" cultivava princípios éticos e valores de sociabilidade que dignificam as pessoas e os cidadãos enquanto actores na sociedade em que se integram.
Fiel ao seu Sporting e aos seus amigos, era uma presença muito agradável e estimulante à mesa do café, para uma conversa construtiva acerca de qualquer facto, assunto, ocorrência local ou nacional.
Conversar com ele constituía um natural valor acrescentado para um livre e aberto debate de ideias e pontos de vista.
Como grande atleta e campeão que foi e soube ser, tinha do desporto uma natural concepção de actividade enriquecedora da personalidade do homem.
O "Chico Bastos" partiu um dia. Deixou o nosso convívio. Almada perdeu um homem sincero, um almadense de referência, que quando falava da sua terra sabia do que estava a falar. O "Chico Bastos" sempre preservou a sua independência. Modestamente sabia quanto valia, por isso nunca se deixou envolver.
Era um Homem Bom, cidadão de sólido carácter e forte personalidade.
O "Chico Bastos" amava a sua terra, Almada e as pessoas. O seu amor por Almada evidenciava-se com alguma relevância quando conhecia um jovem que lhe dizia ser de Almada. Imediatamente o "Chico Bastos" dizia : "Se és de Almada, então és boa pessoa !"
Quando algum amigo chegava junto dele ou era ele que chegava junto do amigo, perguntava sempre com a sua voz forte e sonante : "Então pá, como é que estás? e todos os teus vão bem?
Se o amigo lhe respondia: "Está tudo bem" ou "Estamos todos bem", o "Chico Bastos" imediatamente dizia com alguma emoção :"Fico muito feliz em saber que estão todos bem."
Este " Fico muito feliz " era dito com tal naturalidade e uma emoção tão grande, que por vezes lhe corria a ponta de uma lágrima no canto do olho.
Era "O Chico" com a simplicidade e a humildade de Homem Bom, Sincero e Amigo!

terça-feira, 27 de fevereiro de 2007

PENSAR LIVRE - SER LIVRE - VIVER LIVRE

A LIBERDADE
"A Liberdade não se concede, conquista-se"
Pierre Kropotkine - Russo (1842-1921) - Príncipe, geógrafo, escritor.