quarta-feira, 28 de março de 2007

Coisas de Almada e da Gente de Almada

MARCHAS DE CACILHAS "Cantigas no ar Andam pelo ar cantigas Lá vai a cantar Cacilhas Cacilhas passa a cantar".....Andavam cantigas pelo ar. "Cacilhas de antigamente Cacilhas dos catraeiros Cacilhas das caldeiradas Cacilhas das Petiscadas no Ginjal"...era, hoje não é mais! " Cacilhas de antigamente era diferente" ....Hoje, é a Cacilhas das ruínas no Ginjal ou do Ginjal em ruínas. a Cacilhas com o antigo Quartel dos Bombeiros em ruínas, por incúria da CMA a Cacilhas descaracterizada a Cacilhas local de passagem, jamais local de estar para admirar Lisboa. ...Amanhã, será a Cacilhas do terminal ferroviário sem o morro e o moinho, porque já é a Cacilhas sem Farol... depois será a Cacilhas sem vida, a Cacilhas envelhecida... a Cacilhas que já foi. Como Cacilhas foi e, agora está a ser tão maltratada!

sábado, 17 de março de 2007

Gente de Almada, Gente Que Viveu Almada

O Dr. Henrique Barbeitos, não sendo natural de Almada, aqui se notabilizou como médico e grande figura da oposição democrática ao regime salazarista. Nasceu a 19 de Maio de 1907 em Barcelos. Cursou medicina em Coimbra. Fez o internato Hospitalar em Lisboa, fixando-se em Almada, onde se notabilizou como médico, como Homem e resistente político. Pessoa simples, exercia a sua actividade profissional com raro sentido de devoção às pessoas, aos doentes. Vimo-lo várias vezes prestando assistência a gente pobre, com quem estabelecia uma relação fraterna e solidária, não cobrando sequer quaisquer honorários pelos seus serviços, aos quais muitas vezes dava amostras dos medicamentos quando se apercebia das reais dificuldades económicas dos doentes. Conheci pessoalmente o Dr. Henrique Barbeitos em 1954, quando ainda dava consultas na sua residência na R. Bernardo Francisco da Costa, posteriormente convivi com ele à mesa do Café, juntamente com outros amigos, com quem ele tinha muito prazer em falar sobre questões de índole sócio-política e de Almada, até que as condições físicas e seu estado de saúde o impediram de se deslocar ao Café. O Dr. Henrique Barbeitos tinha um jeito muito suave de falar com as pessoas. Nunca elevava a voz. Sentia, quem falava com ele, que a sua voz era voz de amigo. Para além do reconhecimento público e popular pela sua actividade médica e intervenção política, este médico, que adoptou Almada como terra sua, não esquecendo nunca Barcelos, granjeou naturalmente um numeroso grupo de amigos que lhe ficaram muito gratos, por tudo o que ele fez por Almada e por sua gente.
Este Homem, que a Almada dedicou a maior parte da sua vida, merecia que seu nome estivesse associado a uma Rua ou Avenida de maior visibilidade deste concelho.

domingo, 11 de março de 2007

Coisas de Almada e da Gente de Almada

 

A GRANDE MARCHA DE ALMADA 1956
Meio Século atrás em que se vivia Almada, em que Almada se divertia.
Havia Festejos e Arraiais Populares sem tribunas de notáveis sorridentes e beijoqueiros.
Era o povo que tomava conta das ruas. Não havia subsídios ao Associativismo, que nesse tempo era mesmo Popular e sem controlo partidário.
Era povo genuíno que trabalhava e lutava por dias melhores irmanado num colectivismo sádio e solidário, livre das amarras politicas de que hoje enfermam neste concelho, muitas colectividades, clubes e associações culturais.
Não havia a subsídio-dependência política.
Havia repressão política, é certo. O povo não era livre de se manifestar, mas tinha um forte sentimento de liberdade. sabia onde estava o inimigo e sabia o que queria.
Hoje as aparências iludem e enganam o povo.
O Povo hoje é desmotivado a participar. Dizem-lhe que há quem pensa por ele e só nele.
Há uma inflação de vendedores de ilusões....

quarta-feira, 7 de março de 2007

Gente de Almada, Gente Que Viveu Almada

José Correia Pires, natural de S. Bartolomeu de Messines, Algarve,viveu em Almada. Aqui o conheci, com ele e outros democratas partilhámos momentos de conversa sobre a sua vida vivida numa luta constante na clandestinidade, na prisão e em liberdade vigiada, por ideais de justiça e de humanidade que não é comum encontrar-se entre muitos homens. Em Almada, Correia Pires esteve sempre disponível, quando foi preciso colaborar com todas as forças políticas contra o regime que cerceava a liberdade aos portugueses e os oprimia. Anarquista, José Correia Pires foi homem de primeira linha na batalha contra a opressão, pela liberdade e pela solidariedade entre os homens. Foi deportado para o Campo de Concentração do Tarrafal em Cabo Verde entre 12/6/1937 e Fevereiro de 1945, onde passou várias vezes pela “Frigideira”, junto com outros companheiros. Deixou-nos um livro “Memórias de um Prisioneiro do Tarrafal, escrito em 1974, onde descreve parte da sua vida, do qual transcrevemos estes extractos:

“Por convicção e temperamento fui sempre socialmente amigo de toda a gente e, se por vezes pareço ou sou mesmo alguma coisa drástico ao que não me parece bem, a verdade é que sempre preferi exaltar virtudes a arengar defeitos. Afigura-se-me que quando aos outros atribuímos defeitos, nos possam acusar que com o facto queiramos esconder os nossos, enquanto que exaltar virtudes, mesmo que sejam nossas, a virtude é sempre virtude, propagá-la em teoria já é elevado, mas pela prática é simplesmente nobilizante.”...”Em todo este arrazoado se pode depreender que o sectarismo não é de cultivar e, se o amor às ideias se pode aceitar como princípio, o ódio ao adversário é situação que nos animaliza e apouca.”
Sobre um episódio ocorrido no Campo do Tarrafal :” A verdade, porém, é que a inflexibilidade do Partido (PC) foi sempre ao longo do tempo, expressão de intolerância e os que não acatassem as suas palavras de ordem eram votados ao ostracismo e, em tudo lhes dificultavam a vida.”
Após o 25 de Abril de 1974, sabendo que um dos seus carrascos, julgo que o Seixas, estava preso em Caxias, pediu-me se conseguiria autorização para o levar a ver o carrasco na prisão. Consegui e levei-o a Caxias. Fizeram-lhe uma recomendação: abririam a portinhola de observação, mas ele, Correia Pires não poderia dirigir qualquer palavra ao preso. Aceitou. Mal abriram a portinhola Correia Pires, conseguiu reconhecer o homem que o havia maltratado e torturado . Este imediatamente virou o rosto quando se sentiu observado. Provavelmente reconheceu o "seu" ex-prisioneiro. Reparei na expressão facial do meu amigo Correia Pires naquele importante momento da sua vida. Essa expressão não era de vingança, mas sim de satisfação por sentir, talvez, que havia sido feita justiça. Aquele que tinha sido seu carrasco finalmente já não torturaria mais ninguém. Julgo que Correia Pires nunca mais esqueceu aquele curto momento em Caxias, onde também ele esteve preso, tal qual não esqueceu os anos de sacrifício que passou longe da família, na clandestinidade e na prisão. “ Que poderei dizer dum homem irmão dos outros homens que conheceu, por vezes, a prisão, a clandestinidade, a fome e a miséria e que esteve 8 anos no campo de Concentração do Tarrafal? Sei que aos 68 anos de idade, vem contar ao povo seu amigo episódios vividos por si. Para dizer o que lutou, sofreu e sonhou. Sonhos de liberdade do seu povo real....” (do prefácio de seu Livro, do amigo A. Madeira Santos) “ O ANARQUISMO é uma doutrina que o TIRANO esmaga, mas que O JUSTO E O HERÓI praticam e a NATUREZA NOS ENSINA.” Correia Pires

José Correia Pires saiu em liberdade, no dia 9 de Março de 1945, depois de regressar à metrópole e ainda ter estado preso em Caxias uns dias.

domingo, 4 de março de 2007

Gente de Almada, Gente Que Vive Almada

Com o devido acordo, insere-se este "post" do Blog http://emalmada.blogspot.com Domingo, Março 04, 2007 Cidadania e Participação Política Em...Almada, Domingo 1 de Fevereiro de 1970, pacificamente aconteceu isto. Jovens estudantes uniram-se e tomaram uma decisão e uma atitude em sua defesa e de seus direitos. Outros tempos... Não havia aqui "política"? Claro que havia e há sempre, porque sempre que o(s) cidadão(s) toma(m) uma atitude em defesa de seus interesses e do interesse colectivo está(ão) a fazer política. Hoje aqueles que tomam de "assalto" o poder, qualquer que seja, por via democrática, acham que o cidadão não deve defender os seus interesses nem deve intervir, não deve fazer política, porque esses entendem que o voto é uma procuração e que só eles é que estão credenciados para fazer politica. Não é assim. Quem é eleito, é para assumir responsabilidades dos seus actos perante os eleitores e não para pisar os eleitores.

Esta notícia, a do lado esquerdo, saiu no mesmo dia 1 de Fev1970 no "Diário de Lisboa" e a do direito, no dia seguinte 2ª feira no vespertino "A Capital". Recordo aqui um jovem estudante de então, o Luís Montelobo, hoje Engenheiro Químico, algures trabalhando no Norte, se já não estiver reformado! Foi ele que coordenou esta jornada e foi o interlocutor com a Gerência do Café Central de então. Não houve intervenção policial. Aqui houve bom senso da Gerência em não chamar a PSP. Foi uma ocupação pacífica, em que os jovens de então, adquiriram meia dúzia de exemplares do Diário de Notícias, por quotização e foi distribuída uma folha a cada um, que a abria simulando leitura. Outro pormenor, foi que o café começou a ser ocupado pacificamente a partir das 13 horas, sentando-se de início só um em cada mesa com uma bica, até esgotar todas as mesas. Só depois era permitido mais de um "leitor" na mesa. Recordo que nesse Domingo 1 de Fev de 1970, o Chefe da Esquadrada PSP de Almada, quando leu o Diário de Lisboa, apareceu logo no Café perguntando o que ocorrera....não tivera conhecimento...era preciso mostrar disponibilidade para manter a ordem! Aconteceu em Almada...em 1 de Fevereiro de 1970, quando ainda havia vida em Almada....Vivia-se efectivamente Almada.

sábado, 3 de março de 2007

Gente de Almada, Gente Que Viveu Almada


Era reconfortante encontrar o Jaime Feio, onde quer que fosse, no café, na rua, em Almada ou em Cacilhas, no barco, quando ia a Lisboa levar trabalhos da sua tipografia, situada no Largo dos Bombeiros Voluntários em Cacilhas, ou mesmo visitá-lo aí no seu local de trabalho, onde também se encontrava a sua irmã Nazaré , a Lé Lé, para a família.

Conversar com ele era tempo ganho, era tempo de aprendizagem com um jovem de idade mais avançada. Qualquer que fosse o assunto ou o tema, com o Jaime iniciava-se sempre uma boa cavaqueira, porque a cultura geral deste almadense era enorme e preciosa.
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As fronteiras deste nosso amigo ultrapassavam os mesquinhos limites do nosso burgo e do país. Embora tivesse viajado bastante pelo espaço geográfico não só de Portugal, o Jaime viajava pelos livros e aí poderemos dizer que levava um grande avanço relativamente a muitas cabeças supostamente convencidas que eram superiores e bem pensantes, deste nosso lugarejo, pelo facto de estarem aqui ou acolá “bem inseridos politicamente”, os autoconvencidos e "inchados".
O Jaime Feio, Almadense tal como o Francisco Bastos, era presença constante dos fins de tarde e à noite, em animadas conversas à volta de uma mesa do café, a pretexto de beber uma bica. O Jaime chegava sempre com um livro na mão, o qual seria o seu natural companheiro, se outros seus amigos não estivessem já aí. As palavras cruzadas eram tarefa obrigatória do Jaime sempre que um jornal estivesse disponível. Foi um apaixonado pelo coleccionismo: postais turísticos e de personalidades, moedas, notas e selos foram algumas das suas colecções.

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Com ele convivemos e aprendemos muito. O Jaime Feio foi um mestre para os mais novos, por quem tinha um especial carinho em estabelecer conversa sobre qualquer tema. Estava sempre disposto a conhecer pessoas e iniciar um relacionamento proveitoso para as duas partes, porque com o Jaime aprendia-se muito, mas ele também estava disposto a aprender com quem quer que fosse. Amigo da noite, o Jaime, tendo já ultrapassado os oitenta anos ainda era presença constante a partir da meia-noite das sextas-feiras na Cervejaria Cabrinha, em Cacilhas, petiscando e, bebendo uma “imperial”, com malta muito mais nova que ele.
Soube como ninguém conviver com os mais novos e estes gostavam de o ter presente. Era um natural conselheiro, a ponto de alguns seus amigos de juventude, dizerem :” Não sei o que é que este tipo tem que as miúdas vêm sempre falar com ele e dar-lhe um beijo! “. O Jaime, nada dizia, só sorria e ria-se. Era seu segredo saber fazer amizades com gente de todas as idades. 


O Jaime Feio era um Homem que cativava naturalmente as pessoas, pela sua moderação, pela sua cultura, pela sua humildade, mas também pela sua grandeza de espirito aberto a ideias novas e sobretudo pela sua abertura ao debate livre e saber dar um bom conselho sem impor nada, nem nada pedir em troca. Nem a amizade dos outros ele pedia. Vinha naturalmente.
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O Jaime era contra toda e qualquer forma de domínio do homem pelo homem, em quaisquer circunstâncias e onde quer que fosse. Para ele as palavras e conceitos de opressão, controle e exploração do ser humano, estavam banidas.
Obrigado Jaime !