quarta-feira, 15 de setembro de 2021

Coisas "d´outra Almada" Parte I


A propósito de actuais profetas, videntes ou gente com "visão futurista" anunciarem ou reivindicarem o prolongamento da linha  do comboio MST até à Costa da Caparica ( que não estava prevista na 1ª fase do Metropolitano Ligeiro do Sul do Tejo - Programa Operacional da Região de Lisboa e Vale do Tejo - Acessibilidades e Transportes - Novembro 2002), convém recordar algumas passagens proféticas e muito elucidativas que constavam naquele Programa (do Ministério das Obras Públicas, Transportes e Habitação) com intuito muito provável de justificar a razão de ser da obra, convencer cépticos ou negacionistas, como hoje se diz, da  utilidade do MST e tentarem não deixar qualquer margem para dúvidas aos fiéis, sobre o altíssimo interesse de realizar a façanha. Eis:

1."MODELO DE GESTÃO
A gestão da infra-estrutura após o início da exploração da rede MST será da total responsabilidade da sociedade concessionária, a qual será igualmente responsável pela sua conservação e manutenção tendo como obrigação a entrega da infra-estrutura de volta ao Estado Português no final da Concessão em perfeitas condições de utilização."

Recorde-se o ruído que o combóio fazia e faz ! 
Alguém foi responsabilizado até à data por isso e pelos danos causados e que causa às pessoas que residem ao longo do espaço canal, bem como pelos danos causados nos edifícios e suas estruturas com a trepidação provocada pela circulação do dito?

2."PRINCIPAIS BENEFICIÁRIOS
Nesta primeira fase, a população dos concelhos de Almada e Seixal, bem como todos os agentes económicos locais, são os principais beneficiários do projecto.
A população destes dois concelhos é de cerca de 280 mil habitantes (em 2002). Os  maiores quantitativos populacionais verificam-se num eixo ao longo da EN 10 que abrange as freguesias destes dois concelhos, precisamente na zona da implantação do MST. Estima-se que em 2005 o conjunto das populações dos dois concelhos atinja os 336 mil habitantes, um crescimento de 20% que evidencia novos desafios de mobilidade, aos quais o empreendimento será a primeira resposta.
A franca melhoria dos níveis de acessibilidade provocada pelo novo transporte público de passageiros (MST) e pela sua articulação com os restantes modos de transporte, terá impactes significativos no âmbito do desenvolvimento do território e do dinamismo das actividades económicas em toda a área"

A profecia quanto aos beneficiários (e aumento da população) dos  dois concelho não se concretizou no tempo adiantado pelos profetas.
O Censos 2011 diz-nos que o apuramento verificado indica para os dois concelhos um total de 332.299 (Almada 174.030 e Seixal 158.269), portanto inferior à estimativa para 2005.
Só posteriormente a 2011 a estimativa do MOPTH para 2005 foi ultrapassada. 
O Censos 2021 diz-nos que a população dos dois concelho é 344.097 (Almada 177.400 e Seixal  166.697). 

3."A franca melhoria dos níveis de acessibilidade provocada pelo novo transporte público de passageiros (MST) e pela  sua articulação com os restantes modos de transporte, terá impactes significativos no âmbito do desenvolvimento do território e do dinamismo das actividades económicas em toda a área."

Estas profecias também não se concretizaram.

Sabe-se o que aconteceu a Almada.

A actividade comercial caiu estrondosamente, muitas lojas fecharam, outras perderam muitos clientes, o espaço público degradou-se, a qualidade de serviço de algumas lojas caiu. as acessibilidades e mobilidade dentro de Almada ficaram piores, os almadenses deixaram de partilhar o espaço público, a vida social  e os contactos entre pessoas perderam intensidade.
A população residente em Almada, Cacilhas e Pragal tem vindo a diminuir, com muitas pessoas a deixarem de residir nestas ex-freguesias.
O Ginjal e os terrenos da Margueira há quanto tempo estão à espera de um figurino novo?
Quanto dinheiro já não foi gasto em projectos e palpites técnicos infrutíferos?
Almada não cresceu nem evoluiu em consonância com as suas potencialidade e o que merecem as suas gentes. Em grande parte afundou-se com e por causa do comboio MST, embora existam ainda outras causas que não têm a ver com o comboio.

4."RESULTADOS ESPERADOS
O investimento nesta 1ª fase, logo que concluído, permitirá de imediato oferecer um serviço de metro de superfície com as caraterísticas indicadas no quadro seguinte:
Tal significará uma melhoria quantitativa e qualitativa da oferta do transporte colectivo de passageiros de onde resultarão em consequência, um grande número de passageiros transportados logo no 1º Ano de exploração do MST, cuja estimativa se apresenta no quadro seguinte:

"

Logo para o 1º Ano de circulação, a profecia ditava 28 milhões de passageiros  a utilizar o MST !
                                      ( um cenário animador, irrealista ou irresponsável ?)

Estas previsões dos profetas também ficaram pelo caminho e já passaram 12 anos desde que o inútil e glutão pelo dinheiro dos contribuintes começou a circular em pleno, correspondente à totalidade da 1ª fase.
O MST transportou em 2020 pouco mais de metade do número de passageiros adiantados pela profecia para o primeiro ano de funcionamento!

Só quem não teve de pagar do seu bolso os prejuízos que causou com irresponsáveis previsões ou profecias e quem não pode ser responsabilizado por continuar a utilizar o dinheiro dos contribuintes para colmatar despesas sem retorno é que poderá defender este elefante branco e continuar, mesmo assim, a contribuir para aumentar a dívida pública dos portugueses.
Outras pessoas defendem esta "expansão" só por palpites ou porque acham que sim que deve ser feita.
Porquê? Porque sim! Dizem.
Um exemplo chocante (ruinoso) das PPP  ( Parcerias Público Privadas ).

- Que ganharam as antigas freguesias Almada, Cacilhas e Pragal em requalificação urbana com O MST?
 Viram muitos dos seus  residentes mudarem-se para longe do inferno.

- Que ganharam os residentes que permaneceram nestas freguesias com o MST?
  Os que vivem ao longo do espaço canal passaram a serem atormentados 21 horas por dia com o barulho e ruído infernais das composições do MST em circulação.
   Estes e os que não vivem ao logo do espaço canal ganharam ainda a desconfiguração urbana e a degradação do espaço público.
  
- Que ganhou Almada com o MST? 
   NADA! Perdeu muito em vivência social e económica.

Os autarcas de então alardeavam  aos quatro ventos: " Almada a um metro do futuro "
Que Futuro?

QUE GRANDE EMBUSTE!

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