Era reconfortante encontrar o Jaime Feio, onde quer que fosse, no café, na rua, em Almada ou em Cacilhas, no barco, quando ia a Lisboa levar trabalhos da sua tipografia, situada no Largo dos Bombeiros Voluntários em Cacilhas, ou mesmo visitá-lo aí no seu local de trabalho, onde também se encontrava a sua irmã Nazaré , a Lé Lé, para a família.
Conversar com ele era tempo ganho, era tempo de aprendizagem com um jovem de idade mais avançada. Qualquer que fosse o assunto ou o tema, com o Jaime iniciava-se sempre uma boa cavaqueira, porque a cultura geral deste almadense era enorme e preciosa.
.
As fronteiras deste nosso amigo ultrapassavam os mesquinhos limites do nosso burgo e do país. Embora tivesse viajado bastante pelo espaço geográfico não só de Portugal, o Jaime viajava pelos livros e aí poderemos dizer que levava um grande avanço relativamente a muitas cabeças supostamente convencidas que eram superiores e bem pensantes, deste nosso lugarejo, pelo facto de estarem aqui ou acolá “bem inseridos politicamente”, os autoconvencidos e "inchados".
O Jaime Feio, Almadense tal como o Francisco Bastos, era presença constante dos fins de tarde e à noite, em animadas conversas à volta de uma mesa do café, a pretexto de beber uma bica. O Jaime chegava sempre com um livro na mão, o qual seria o seu natural companheiro, se outros seus amigos não estivessem já aí. As palavras cruzadas eram tarefa obrigatória do Jaime sempre que um jornal estivesse disponível. Foi um apaixonado pelo coleccionismo: postais turísticos e de personalidades, moedas, notas e selos foram algumas das suas colecções.
.
Com ele convivemos e aprendemos muito. O Jaime Feio foi um mestre para os mais novos, por quem tinha um especial carinho em estabelecer conversa sobre qualquer tema. Estava sempre disposto a conhecer pessoas e iniciar um relacionamento proveitoso para as duas partes, porque com o Jaime aprendia-se muito, mas ele também estava disposto a aprender com quem quer que fosse. Amigo da noite, o Jaime, tendo já ultrapassado os oitenta anos ainda era presença constante a partir da meia-noite das sextas-feiras na Cervejaria Cabrinha, em Cacilhas, petiscando e, bebendo uma “imperial”, com malta muito mais nova que ele.
Soube como ninguém conviver com os mais novos e estes gostavam de o ter presente. Era um natural conselheiro, a ponto de alguns seus amigos de juventude, dizerem :” Não sei o que é que este tipo tem que as miúdas vêm sempre falar com ele e dar-lhe um beijo! “. O Jaime, nada dizia, só sorria e ria-se. Era seu segredo saber fazer amizades com gente de todas as idades.
.
O Jaime Feio era um Homem que cativava naturalmente as pessoas, pela sua moderação, pela sua cultura, pela sua humildade, mas também pela sua grandeza de espirito aberto a ideias novas e sobretudo pela sua abertura ao debate livre e saber dar um bom conselho sem impor nada, nem nada pedir em troca. Nem a amizade dos outros ele pedia. Vinha naturalmente.
.
O Jaime era contra toda e qualquer forma de domínio do homem pelo homem, em quaisquer circunstâncias e onde quer que fosse. Para ele as palavras e conceitos de opressão, controle e exploração do ser humano, estavam banidas.
Obrigado Jaime !
8 comentários:
Outra grande figura da cultura almadense que convivi no Café Central.Possuidor de raro espólio
fotográfico, Jaime Feio é um dos grandes almadenses.
Artur Vaz
O Jaime Feio foi de facto um vulto raro de entre os almadenses que se fizeram a si mesmo culturalmente, sendo admirado por grandes nomes nacionais das artes, da escrita, do teatro,do jornalismo, etc.
Com ele conversava-se com o prazer de se estar sempre a aprender.
Postar um comentário